terça-feira, 14 de agosto de 2012


Ensino médio no País está em crise, diz especialista sobre Ideb
14 de agosto de 2012  19h58


O desempenho das escolas de ensino médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado nesta terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC), foi classificado pelo movimento Todos pela Educação como "uma verdadeira crise do modelo de ensino atual". Apesar de a média geral ter sido atingida, ficando em 3,7 pontos (em uma escala que vai até 10), o indicador caiu em relação a 2009 em 9 Estados: Acre, Pará, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul.
"Temos uma crise por duas razões: primeiro porque esta etapa acaba recebendo o acúmulo das deficiências das etapas anteriores, ou seja, o aluno chega com muitas lacunas de aprendizagem. Em segundo lugar, ocorre um problema de estrutura. Temos um ensino médio com 14 disciplinas obrigatórias, não se consegue aprofundar em tema nenhum, a fragmentação é enorme", afirma a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Segundo ela, soma-se a esses fatores o desinteresse de boa parte dos estudantes nessa etapa e a falta de professores para todas as disciplinas, principalmente nas áreas de exatas. "Sabemos das dificuldades, mas termos um retrocesso em 9 Estados é simplesmente inadmissível". A diretora do Todos pela Educação defende ainda que a média nacional - de 3,7 pontos - também é preocupante já que representa um avanço de apenas 0,1 ponto em relação ao último levantamento, de 2009. "O retrocesso de uma edição para outra é um absurdo, mas também não deveríamos ter essa estagnação. Estar estagnado é regredir porque o nosso ensino é muito ruim, então, o mínimo esperado seria avançar".
Ela ainda cita o exemplo de Alagoas, único Estado do País em que o desempenho do Ideb de 2011 foi inferior ao registrado em 2005 para o ensino médio - de 3 naquela primeira avaliação, passou para 2,9 no ano passado. "Isso é um problema de gestão, porque recursos para investir todos os Estados têm. É muito fácil sentar e formular planos, mas na implementação das ações que a gestão aparece. E Alagoas não consegue implementar seus planos", critica.
O secretário de Educação e Esportes de Alagoas, Adriano Soares, não quis se pronunciar sobre os novos dados do Ideb. Sobre os problemas na pasta, Soares admitiu os números negativos e disse que a educação alagoana está sendo preparada "focando o futuro".
Bons exemplos 
Para a diretora do Todos pela Educação, os dados do desempenho das escolas nas séries iniciais do ensino fundamental devem ser celebrados. "Nesta etapa temos mais clareza dos avanços e do que precisa ser feito para melhorar. Temos que pegar os bons exemplos, como o Ceará, que avançou 0,9 ponto em dois anos, e o Piauí, que cresceu 0,8 ponto. São Estados pobres que conseguiram dar grandes saltos. Possuir uma renda mais baixa que a média nacional não foi usado como desculpa para não fazer. Precisamos olhar para esses locais e entender o que foi feito, disseminar as políticas exitosas", disse Priscila Cruz.
Nas séries iniciais, o Brasil superou a meta estabelecida para o Ideb em 0,4 ponto, atingindo o patamar de 5 pontos. Nas séries finais, a meta foi superada em 0,2 pontos, atingindo 4,1. "Nas séries finais perdemos um pouco o fôlego, com um avanço menor que traz indícios da crise que estoura no ensino médio, com maior repetência e redução significativa na aprendizagem", afirma. Para a especialista, mudar o perfil da última etapa da educação básica passa por repensar o currículo. "Precisamos também acabar com ensino noturno e ter mais oferta de escolas em tempo integral para que os alunos consigam reverter acúmulo de déficit das etapas anteriores e avançar no aprendizado", completa.
Ideb 
A avaliação foi criada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2007, com dados contabilizados a partir de 2005, e leva em conta dois fatores que interferem na qualidade da educação: o rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho nas avaliações da pasta (Prova Brasil e Saeb). Os exames avaliam o conhecimento dos alunos em língua portuguesa e matemática no final dos ciclos do ensino fundamental, de 4ª série (5º ano) e 8ª série (9º ano), e no terceiro ano do ensino médio.

domingo, 12 de agosto de 2012


Lei das Cotas já afetará o vestibular deste ano

Publicado em 09.08.2012, às 09h38

Quem prestar vestibular no fim deste ano já poderá ser afetado pela Lei das Cotas, aprovada na última terça (7) pelo Senado. O texto vai ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff em até 15 dias e passará a valer assim que for publicado. As universidades federais terão até quatro anos para se adaptar às novas regras, mas até um ano para adotar ao menos 25% do que a lei prevê - ou seja, terão de implementar o novo modelo de cotas em uma escala menor. Reitores criticaram a medida, alegando que ferem a autonomia universitária.
A federal que promove apenas um vestibular por ano terá necessariamente de adotar esse sistema de cotas em seu exame do final de 2012 ou início de 2013. Já universidades que realizam duas provas anuais, como a UnB, de Brasília, poderão adotar o novo sistema só em meados do ano que vem.

A nova lei prevê que 50% das vagas de todos os cursos e turnos das federais sejam reservadas a estudantes que cursaram todo o ensino médio em escola pública. Uma parte dessas vagas deve ser dedicada a negros, pardos e índios, e outra a alunos com renda familiar igual ou menor a 1,5 salário mínimo per capita. A maioria da universidades já adota algum tipo de ação afirmativa, mas poucas atingem um porcentual de 50% das vagas.

Em meio à satisfação da presidente Dilma Rousseff e ao descontentamento dos reitores, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, optou por não comentar nada sobre a aprovação da lei das cotas.

Oficialmente, ele quer primeiro conversar com a presidente, se inteirar sobre o assunto, para só então se manifestar. Nos bastidores, a conversa é outra. Entre os que trabalharam pela aprovação do projeto de lei é quase unânime a tese de que Mercadante nunca foi simpático ao sistema.

Ele teria, até mesmo, pedido várias vezes que o projeto não entrasse na pauta de votação - resistência atribuída à rejeição do tema no Estado de São Paulo, seu reduto eleitoral. Mas o cenário foi ficando cada vez mais propício para a votação dessa lei especialmente após a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal da constitucionalidade das cotas.

Outro facilitador, acreditam interlocutores, foi a saída de Demóstenes Torres (sem partido-GO) do Senado, que sempre foi forte opositor das cotas e grande agregador de parlamentares.

Aprovado o projeto, a quebra da autonomia universitária é a principal crítica de reitores à decisão do Senado. Representante dos reitores, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) posiciona-se contra o projeto desde que a tramitação começou.

“Quase todos os reitores são a favor de políticas afirmativas, mas as ações devem ser estabelecidas a partir da autonomia, respeitando a especificidade de cada região”, afirma o presidente da Andifes, Carlos Maneschy, reitor da Federal do Pará (UFPA).

“Aqui no Pará definimos cota de 50% para escola pública, nem haverá grande mudança. Mas fomos nós que decidimos e essa fórmula não pode ser aplicada em todas.”

Para o reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Walter Albertoni, a definição de 50% é preocupante e pode resultar em queda de qualidade de ingressantes, principalmente em cursos mais exigentes, como Medicina. “Ainda não dá para saber como vai ser o desempenho com esse porcentual”, diz ele. A Unifesp reserva 10% de vagas de cada curso e o desempenho dos alunos é considerado bom, segundo Albertoni.

O reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Helio Waldman, discorda. Segundo ele, é imprescindível porcentual como esse. “Não adianta colocar cotas pequenas. Quando se tem 10%, por exemplo, frequentemente a nota de corte é até superior ao dos não cotistas, pois essas vagas serão preenchidas por alunos vindos de escolas técnicas e colégios militares, que, em geral vêm de famílias com renda alta”, diz ele.

Intromissão

O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Salles, criticou a “intromissão indevida” do Congresso. “O Senado está transferindo a responsabilidade do ensino médio de qualidade, que cabe aos governadores e prefeitos, para as universidades. Estão passando o pepino”, afirmou Salles. Recentemente, a UFF aprovou a reserva de 25% das vagas.

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) precisará de poucos ajustes para se adequar à lei. “Nossa política de cotas é semelhante à aprovada pela Câmara”, diz a reitora Dora Leal Rosa.

Em vigor desde 2004, o sistema de cotas da UFBA reserva 43% das vagas a estudantes que tenham cursado todo o ensino médio - além de pelo menos um ano do ensino fundamental - em escolas públicas. Além disso, oferece 2% das vagas a descendentes de índios. Dentro da cota, 85% são direcionadas a negros e pardos, seguindo as proporções da população baiana. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Fonte: Agência Estado